domingo, 5 de abril de 2009

Menestrel das Alagoas

Teotônio Vilela

Ligado quase toda a vida a partidos de direita, Teotônio Vilela estreou no MDB - de oposição ao regime militar -, em 1979, com a missão de presidir a comissão parlamentar que discutiria a anistia aos cassados pelo AI-5. Como um cavaleiro andante da democracia, ele tirou dinheiro do próprio bolso para visitar um por um os presos políticos que cumpriam pena. Em uma delegacia, esbarrou na arrogância de um policial que exigia mandado judicial. "Dê licença, falo em nome da República!", agigantou-se Teotônio. Era um acerto de contas com o passado. Diante das vítimas de tortura, ele rogou ajoelhado: "Perdão por não ter visto antes essa barbárie."

Usineiro

Nascido a 28 de maio de 1917, em Viçosa (AL), Teotônio Brandão Vilela era o orador da turma no colégio jesuíta. Num discurso citou Rousseau, autor francês proibido pelo Vaticano. Os padres escutaram escandalizados o garoto de 15 anos que pregava um "novo pacto social". O catecismo acalmou, por uns tempos, sua fúria cívica. Em 1937, ele foi tentar a vida no Rio de Janeiro, mas preferiu os cabarés aos cursos de Direito e Engenharia, que nunca concluiu. De volta ao sertão, negociou boiada até fundar uma usina de cana-de-açúcar. Em 1948, filiou-se à UDN, partido pelo qual se elegeu deputado estadual e vice-governador de Alagoas. Em 1966, candidatou-se a senador pela Arena. Se num primeiro momento apoiou o golpe militar, logo disparou críticas. A rebeldia só não lhe rendeu a cassação por causa da amizade com o ministro dos Transportes, Mario Andreazza. "A situação do velho já estava ruim porque ele presidia a Sociedade de Amigos de Cuba, prova de que era um liberal por excelência", afirmou a ISTOÉ o senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL).
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Menestrel

Em 1975, cobrou a redemocratização nacional em discursos memoráveis que lhe valeram o apelido de Menestrel das Alagoas. Enquanto os parlamentares do MDB o aplaudiam de pé, os arenistas viravam as costas e deixavam o plenário. Teotônio percorreu o Brasil exigindo democracia. Inspirou-se na miséria nordestina para elaborar o Projeto Emergência, que propunha a moratória da dívida externa, reformas sociais e eleições diretas para presidente. Morreu a 27 de novembro de 1983, de câncer generalizado, depois de comover o País com sua peregrinação. "Há coisas que enchem a vida de alegria: lavar um cavalo na água fria do rio, sacudir um boi pelo rabo na carreira de uma vaquejada e falar com os jovens, sentindo a esperança."
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VOCÊ SABIA?

Boêmio inveterado, pagava rodadas de cachaça e uísque para os convivas, ainda que tivesse de assinar cheques sem fundo. "Gostava de acompanhar a cantoria tocando em caixinha de fósforo", lembra Teotônio Vilela Filho. Em 1972, decidiu, de repente, que nunca mais beberia. "Já estourei minha cota até o ano 2000", lamentava.

Menestrel das Alagoas
Letra de Milton Nascimento


Quem é esse viajante

Quem é esse menestrel

Que espalha esperança

E transforma sal em mel?

Quem é esse saltimbanco

Falando em rebelião

Como quem fala de amores
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Para a moça do portão?

Quem é esse que penetra

No fundo do pantanal

Como quem vai manhãzinha

Buscar fruta no quintal?

Quem é esse que conhece

Alagoas e Gerais

E fala a língua do povo

Como ninguém fala mais?

Quem é esse?

De quem essa ira santa

Essa saúde civil

Que tocando a ferida

Redescobre o Brasil?

Quem é esse peregrino

Que caminha sem parar?

Quem é esse meu poeta

Que ninguém pode calar?

Quem é esse?
Para ouvir a música "Menestrel das Alagoas" é só clicar no link abaixo:

Um comentário:

  1. Parabéns pela homenagem a Teotônio Brandão Vilela. Conhecí-o e estive com ele em muitos dos momentos da sua última jornada: a redemocratização do País. Extraordinária figura humana. Obrigado pelo espaço. Veja o meu blog: www.blogdoetevaldo.blogspot.com. Trata de História e Lieratura.

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